quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O viajante 5

VOLTEI - vou dar uma pausa no viajante semana que vem, e falar sobre o show do Green Day quarta-feira passada em Porto Alegre, mas por enquanto curtam o viajante.


E como doía. Nunca tirem um maxilar do lugar, eu juro por Deus que não vale a pena - nem por aquela gata de pernas bronzeadas e shortinho rasgado - NÃO vale a pena. E eu digo um maxilar e não o maxilar, porque também nunca tirem o maxilar de outra pessoa do lugar. Com certeza depois de toda a dor, e de todo o constrangimento de falar como um retardado que levou uma picada de cobra na língua, babando e cuspindo em todos os pobres ouvintes na volta - essa pessoa que teve o maxilar quebrado por você, vai atrás e vai mandar você pro inferno - pessoalmente - e vai se certificar de que seja com o maxilar quebrado.
Terry me chamou de fresco, dizendo que eu parecia uma moçinha quando mesntrua pela primeira vez e acha que está morrendo de hemorragia. Eu pensei seriamente em deslocar o maxilar dele nessa hora, mas a lembrança de que ele foi um soldado bem sucedido em matar vietnamitas, não me deixa comprar a minha morte. Pelo menos, é a fama que ele tem. Nunca pague pra ver.
Também aprendi isso com Marianne - a ruiva - nunca duvide que alguém vai fazer algo muito improvável na sua cabeça oca, porque essa pessoa vai lá e faz pior - muito pior.
Depois que voltei para casa - o trailler do Alabama - muita coisa tinha continuado a mesma coisa. Acho que mudanças não eram comuns lá. Não vi a filha de Terry, e desconfio que ele levou até o fim sua promessa, e desconfio tanto que fiquei com medo de perguntar.
Quem me recebeu foi Diego - o cão - com mais um de seus pedaços de bife. Eu estava tão faminto que pensei em comer se ele não tivesse saído da boca de um cachorro. Mas depois de ter sido nocauteado por uma garota, que humilhação venceria dessa?

- Ah! Você chegou - disse Terry com um sorriso na cara - pra meu alívio.
- E com o maxilar no lugar.
- Deixa de ser mulherzinha amigão! Temos algo importante para fazer amanhã. É a festa anual do veteranos de guerra da cidade e você está convidado.
Fiquei com medo, eu confesso, de que isso fosse uma armadilha que Terry armou pra se vingar de mim, mas nada que uma cerveja não resolvesse depois, acabaria com o medo.
- Bem e porque eu deveria ir?
- Porque eu tenho planos pra você, que talvez sejam muito próprios pro momento, então sinta-se convidado a ir beber de graça. Cerveja de graça amigão, mais algum motivo?
- Não, está muito bom assim!
- E amigão, arranje uma bandeira dos Estados Unidos - pega bem com os veteranos! - E saiu para mais uma de suas caminhadas pelos bares do deserto.

Confesso que fiquei curioso. E confesso que descobri que tinha porque ficar. Chegamos na festa, enfeitada com bandeirinhas azuis e vermelhas, e cada participante tinha uma bandeira. Eu tinha conseguido a minha vendendo um de meus livros, que nessas viagens já li tantas vezes que sabia de cor. Terry me apresentou a vários veteranos, um mais mal encarado que o outro e a cada tapa no ombro eu me encolhia feito um cachorro desgraçado. Mas um em particular, depois da centésima cerveja, foi quem me fez o convite:
- Amigão, este é Billie, o matador!
- E aí Billie, belo apelido- eu disse, com um pouco de receio, escondido pelo álcool no sangue.
- E aí cara, Terry me falou muito bem de você! Disse que tem a características do ECGEUA.
- DO QUÊ? - eu sabia que aí vinha uma palestra.
- Do Exército Contra o Governo dos Estado Unidos da América meu caro - você está sendo convidado - disse Terry mais uma vez babando em minha cerveja. Acho que isso era um hábito muito comum no Alabama, mas depois da décima, eu já não me importava.
- E que diabos é isso Terry?
-Amigão, temos muito que conversar, mas vou lhe adiantar aqui - eu e meus conterrâneos estamos formando um exército, para lutar contra as maluquices do governo, contra tudo que eles dizem que fazem por bem, mas tem um mal escondido nas entranhas do bem. Mas precisamos de novos soldados, pois estamos ficando velhos e não conseguimos nem mais transar, imagine lutar. Por isso estamos recrutando caras como você, aventureiros, que não se importem de morrer pelo bem da nação.
Olhei pro Billie pra ter certeza de que essa loucura não era em massa, e eu teria de chamar 10 ambulâncias pra levar todos eles pro manicômio, mas ele estava balançando a cabeça já sem cabelos em sinal afirmativo, e com um olhar matador - que notei fazia jus ao seu apelido. E quem diabos tinha dito que eu morreria pelo bem da nação?
- Terry, eu... não sei se devia me envolver nisso... nem sou daqui e...
- Achei que não fosse ficar com medo....
Medo? MEDO? Medo não- qualquer coisa menos medo, eu o destemido, eu o corajoso, medo não...
- Eu topo.
- É mesmo? - disseram os dois, em igual empolgação.
- Sim, nunca treinei pra algo assim, e acho que tá na hora de fazer algo novo. - Eu estava mentindo, mas não sabia. Descobriria depois, e lembraria de que não se deve aceitar nem mulher quando se bebeu mais de 15 cervejas.

A festa acabou bem, vários veteranos cantando emocionados o hino do país, chorando como um bando de bebês, quando na verdade não passavam de beberrões nacionalistas e traumatizados, sem uma perna ou um braço, loucos para lutar e estraçalhar o inimigo outra vez. Pensando por esse lado eu corri riscos de vida nessa festa.
Eu agora também devia entrar nesse espírito, eu já tinha uma bandeira, e me deram um cd do Bruce Springsteen pra ouvir e decorar as letras, fazia parte do treinamento psicológico, diziam eles. Quando acordei, fui conversar com Terry pra saber se eu tinha sonhado com aquela ideia maluca, mas não, era tudo verdade, e no meu caso, obra do álcool.

Mais um etapa maluca dessa viagem estava pra começar, e eu pensei: "bem, porque não? Eu já sentei minha bunda até em caçamba de caminhão de porco, porque não isso?" E coloquei o cd do Bruce pra tocar.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O viajante 4

Dianne - a filha de Terry - realmente era uma garota e tanto. Nem parecia filha do soldado. Porque segundo Terry - e eu gosto de usar as palavras desse velho homem - "filhos de soldados têm no sangue a prudência, assim como seus pais, não metem a bunda em qualquer buraco não!", e Dianne parecia não ter medo de morrer.

Depois de tomar minhas cervejas e de ter posto alguns gelos do copo de whisky na cara, pra aliviar a dor do soco que levei da menina-demônio, eu não podia e não queria contar ao Terry, que tinha fracassado na minha primeira missão em nome dele. O que eu podia fazer? Ir atrás dela e trazê-la pelos cabelos até em casa prometendo lhe dar algumas cervejas se ela não contasse nada? Ir atrás dela e parecer um mico de circo tentando chamá-la enquanto ela iria me ignorar e continuar se amassando com um caipira? Foi isso que fiz e foi isso que aconteceu. Sempre fui um perdedor e perdedores devem fazer coisas de gente perdedora, e foi isso que fiz. Ninguém nunca precisou me dizer o que isso significava.


Eu gritei, eu berrei, eu esperneei e nada daquela diabólica me dar ouvidos. Quer dizer, ouvir ela me ouvia, mas com certeza a mão do caipira dentro de sua blusa e sua língua tentando engolir a dela era mais interessante. Bem eu admito que também iria achar mais interessante - mas ei, éramos foras da lei ali certo? Eu não conhecia Terry muito bem, mas ele era grande o suficiente, macho o suficiente e rancoroso o suficiente pra eu saber que não seria uma boa se ele ficasse sabendo disso. Eu pensei mais alguns segundos e resolvi ir até lá .


E eu fui. E não deveria ter ido, mas eu sou um perdedor o que mais eu deveria fazer? Ah, se eu pudesse voltaria no tempo, voltaria ao bar e beberia até cair, diria ao Terry que fora Dianne quem me embebedou, ou então iria beber até cair e criaria coragem pra esfaqueá-la - aquele demoninho disfarçado de garota.
Eu fui até lá e apanhei, apanhei como nunca na vida. Perdi a chance de aprender a brigar. Perdi porque tive o maxilar quebrado, o braço também, e uma costela trincada. Quem me bateu? A encarnação de um lutador de boxe. Na verdade o caipira que estava metendo a mão nos peitos da filha do meu amigo soldado (e lunático) - era um lutador de boxe. O melhor da região. Mas é óbvio que um viajante recém chegado na cidade como eu não saberia disso, e foi então que apanhei. E o mais vergonhoso: quem trincou minha costela foi a garota.


Depois de ir ao hospital, alguém que queria minha morte avisou Terry. E foi inusitado:
- Bem, eu tinha pensado em te levar pra festa dos veteranos na semana que vem amigão, mas você falhou. - disse ele e eu estremeci.
-E não vai me levar mais porque... vai me matar e enterrar meu corpo em outro estado? Ou vai alimentar o Diego - meu melhor amigo canino - com os meus próprios restos?
-Quanta morfina te deram pra botar esse maxilar no lugar eim?
-Eu, eu...
- Amigão, eu conheço minha filha, porque acha que mandei você convencê-la? Da vez que tentei cheguei ao hospital com um caco de vidro enfiado na orelha. Sei o que está pensando, que isso seria uma cicatriz de guerra, pois bem, minha filha às vezes é pior que um vietnamita com hemorróida amigão.
Meu queixo caiu. Pobre maxilar.
-Eu nem sei o que dizer...eu.
-Você pode cortar lenha quando chegar em casa, e talvez dar banho no Diego, e eu não vou poder vir te buscar então pega uma carona. Com a Dianne lido eu, quem sabe eu mande ela à um circo, talvez a domem.
E riu bestialmente, como sempre fazia quando tentava achar graça da sua própria piada. O problema é que eu não tinha certeza se era mesmo só uma piada. Sabe como são os soldados. Mas fiquei feliz por poder continuar morando no trailler.
-Eu gostaria de ir vê-la no circo então - e tentei rir e fiquei vermelho.
-Não precisa esforçar essa cabeça oca e cheia de merda pra fazer alguma piada e me fazer sentir melhor. Sou duro na queda amigão. O exército te ensina isso. Melhore até semana que vem, você vai na festa, tenho planos pra essa merda toda que tem na sua cabeça.
E riu, e saiu.
E meu maxilar doía.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O viajante 3


Não sei porque Terry gostou de mim. Ele simplesmente me levou morar uns tempos no seu trailer. Não sei o que aconteceu comigo nesse tempo, pois a primeira coisa que fiz quando saí da casa de Terry foi comer uma ruiva que estava na estrada e logo depois comprar um trailer. A ruiva me ajudou. Marianne era o seu nome. Ela que me ensinou que prostitutas nem sempre roubam sua carteira no fim da noite.
Quando cheguei ao trailer de Terry fui apresentado à sua família. Era pequena: uma mulher a quem ele gostava de chamar de "mulher", e dois filhos, Dianne - uma linda adolescente transpirado chatice e depressão, e Adam - um excelente fazedor de cocô de 3 anos. Segundo Terry, o menino foi a coisa mais produtiva que ele e sua mulher fizeram depois da guerra, "e olha que por ter sido com três pernas, eles se sairam bem", palavras dele. Depois de conhecer a família de meu mais novo amigo lunático, fui apresentado à classe C do trailer - os cães. Eram todos sarnentos, pulguentos, vira-latas e amados. Como Terry os amava, principalmente o General - o cachorro que ele conseguiu trazer do Vietnã em um baú. Não me pergunte como, porque eu fiquei com medo de perguntar ao Terry.
Onde o veterano ia, ele ia atrás, pareciam sempre prontos para se defender de um ataque, e os dois tinham pesadelos com bombas e odiavam barulho de foguetes. Aquele cachorro conseguia entender o Terry de um jeito que nem Deus entendia.
Eles eram todos católicos - menos o Adam, Terry achava que era muito cedo pra corrompê-lo com bobagens e maluquices. Terry fingia que era católico, descobri depois. Inclusive memorizou as orações pra mulher não desconfiar. Ele na realidade achava coisa de malucos - "mas não os malucos legais e espertos, os malucos idiotas e fracos, que não tinham 10 pila pra comprar uma boa cerveja e por isso tinham que recorrer à Deus", novamente palavras dele.


Nos primeiros dias tive de me acostumar com a cama dura e com o cachorro que me adotou, literalmente. Diego - em homenagem à um ator mexicano de não sei o quê, o qual Terry idolatrava - até chegou a me trazer um pedaço de seu bife. Talvez eu tenha cara de cachorro, ou talvez ele entendeu que gosto das coisas simples, e não há nada mais simples que um cachorro. Seguindo isso, o adotei também.
A comida era simplesmente arrebatadora. Nunca comi algo igual na vida. Terry dizia que isso só aconteceu porque "a mulher estava no lugar certo e na hora certa com os ingredientes certos, como deve ser". No mundo dele, homens lutam na guerra e mulheres cozinham - onde for.
Na primeira semana, a filha chorona e depressiva teve um problema, queria ir à um luau no meio do deserto. Lá também teria um show de manobras de aviões. Era a festa típica da cidade e Terry me pediu que como favor, fizesse a filha entender que não poderia ir porque uma vez soldado - SEMPRE SOLDADO! E eles nunca esquecem disso.
Sem entender muito bem, depois de um olho roxo e 5 cervejas pra esquecer, a menina foi ao local no carro do pai, e me deixou sem dinheiro pra voltar pro trailer. Sim ela me roubou e eu não falei nada à Terry, porque soldados são sempre soldados.

A vida simples no melhor trailer do Alabama me cativou, Caí de quatro por ela como se ela tivesse as melhoras pernas do mundo e muita grana pra me oferecer. E nunca mais, consegui sair de suas garras.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O viajante 2



Em uma dessas andanças, depois de ter deixando o caminhão e seus solavancos e seu velho maltrapilho - entrei em um bar na beira de uma estrada, que nem gravei o nome, nem do bar e nem da estrada. Acho que era algo como Ted Bar - Ned Bar, mas era um bar. Igual aos outros. Foi nesse bar que conheci meu amigo Terry, um veterano de guerra, vindo do Vietnã, ainda com tudo limpo em sua cabeça, embora em seu corpo faltasse uma perna, sabem como são as granadas, são como vagabundas de fim de noite que levam algo precioso seu quando você menos espera. Não que Terry achasse que sua perna um dia lhe fora preciosa - ele dava valor à mente.
Foi nesse dia e vindo desse homem que ouvi o melhor elogio que já recebi de alguém que preste. Eu entrei no bar, ele me abordou:
- E aí amigão, vai querer dividir uma cerveja?
E eu disse, obviamente sem exitar:
- É claro, eu pago.
E ele me disse, e aí vem o elogio:
- Com certeza tu é um cara que eu gostaria de ter comigo em um trincheira. Soldados não devem exitar. Se na próxima vida nascermos para ser soldados, espero que estejamos do mesmo lado - porque amigão ambos seríamos duros de matar.
E riu bestialmente enquanto cuspia abundantemente na minha cerveja. E naquele momento eu pensei, quero ser o vagabundo lunático amigo deste vagabundo lunático veterano.
E ele ainda me disse:
- Os homens são idiotas, nunca se sabe quando resolverão guerrear e te obrigar a perder os miolos por eles. Então coma todas as mulheres que se oferecerem, escolha uma e case com ela. Tenha três ou quatro cães sarnentos, mas nada de filhos, eles não vivem sem um pai quando ele morre na guerra, ou quando ele volta sem uma perna. E beba muita cerveja, porque não se encontra cerveja assim lá fora amigão.
E foi o que fiz? É isso que vou fazer? Não sei, só sei que saí daquele bar com Terry, meu amigo veterano de guerra e fui passar uns dias em sua humilde casa. O melhor trailler do Alabama!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

O viajante


Enquanto pego a estrada na carona de um caminhão vazio, tenho do meu lado um homem maltrapilho do interior e uma pilha de livros que li há tanto tempo que nem sei mais o que dizem, que mensagem passam e quem foi que passou. O caminhão anda entre solavancos e eu me encosto em seu ferro frio e morto para divagar sobre as nossas andanças sobre a Terra.
Chego à conclusão - em meio aos murmúrios do maltrapilho ao meu lado - de que o pessimismo é detestável. Estraga todo e qualquer sentido perdido da vida que ainda poderíamos resgatar. Pessoas que vivem com esse sentimento nunca conseguem entender o porquê de acreditar. Afinal vamos todos ao chão, ao mesmo lugar no final, então me perguntam - qual é a diferença? Porque é tão fácil pra você acreditar que existe um sentido, por mais medíocre que seja? - E eu respondo : ora, porque é tão difícil para você?

O que falta é humanidade. Eu vago pelas estradas e ruas desse mundo, sem muitos tostões no bolso e carregando livros que eu nem leio mais. Para quê? Eu não sei - talvez eu goste de me sentir livre. Talvez eu goste de poder ir ao chão com mais coisas para contar aos vermes sobre o que é viver.

Eu vejo de tudo, eu saio e procuro o que ver. Eu conto para todos e troco essas informações, na tentativa de salvar alguns pessimistas e mostrar à eles o que o mundo têm a oferecer - se quiserem ver. Soa um pouco moralista, mas não o é. Sou só um vagabundo lunático à caça de vida humana, à caça de fé, de algo que valha a pena sentir fé.

Enquanto procuro, preciso acreditar que os pessimistas estão se acabando. Assim posso continuar tranqüilo nessa caçamba de caminhão - com o homem lunático a divagar (como eu?) - e ir ao chão acreditando em alguma coisa - de que não joguei a minha vida fora...



Textinho novo.
Vou começar a escrever um dos meus livros, tenho idéias para uns 20.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Sobre visões do espaço



Sempre quis ser astronauta. Sempre quis ver a Terra de longe, lá de cima, ver ao vivo o que eu vivia procurando em fotos. Nunca teve um propósito diferente, eu queria ver a Terra por inteiro.

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É a primeira vez que viajo em um foguete, que saio literalmente da atmosfera e venho ao espaço. Deixei para trás família e amigos, meu cachorro Rack e o caos da Terra. É a primeira vez que eu fico longe do caos de tudo. É solitário aqui no espaço. É tranqüilo aqui no espaço. Eu sinto a paz - eu quase posso vê-la!
A Terra, nem preciso macular, é linda. De todos os planetas, tu podes notar de longe que ela é o planeta mais vivo. Ela exala vida - toda a nossa vida e a sua própria. Então porque a matamos? Eu - aqui de cima - já não faço mais parte desse assassinato contra o Planeta Terra. Estou apenas estático no espaço, observando com os olhos cheios de lágrimas, a beleza estonteante que me cega, da casca da Terra. Sempre achei que preferiria vê-la assim, a casca, todos os podres escondidos, apenas a paz à mostra - e acertei.
Às vezes penso em não voltar - tenho como ver as nossas cidades e atrocidades daqui de cima, tenho equipamentos, mas não quero olhar e ferir a beleza da Terra como a vejo agora. Penso em não voltar e ficar aqui, esperar o fim olhando o infinito do Universo - o Universo do infinito. A Terra é linda neste momento também, olho para ela e quero chorar suas perdas. Às vezes quero não voltar mas é tão solitário aqui no espaço.

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Hoje a olhei e percebi um erro gravíssimo dos meus típicos erros infames ao ser humano - ínfimo em sua ignorância. Eu vim ao espaço para ver a Terra, queria vê-la como ela é, mas percebi que essa visão eu só tinha quando estava em seu chão. Via a Terra como ela realmente era quando olhava os olhos das crianças nas ruas, quando ouvia os ganidos dos animais com fome e quando via homens matando homens por nada. Via a Terra como ela era quando estava lá embaixo - quando não na minha condição de astronauta e via cenas humanas, com dor, sofrimento, amor e ódio. Quando o ser humano mostrava sua mais pura bondade ou podridão.
Essa Terra que vejo aqui do espaço - estupidamente linda - não é como ela é de verdade - é apenas utopia.
Assim resolvo - quero voltar pra Terra!


Mais um texto de minha autoria, super simples e sem termos técnicos né - afinal não sou astronauta ;x

Da Volta

O amanhã chegou finalmente e eu voltei a postar aqui. Mas agora o blog foi reformulado por um excelente futuro web designer aí =x, e eu vou postar coisas mais diversas, mesclando elas com os meus textos também, mas como estou com um pouco de preguiça de digitá-los hoje, começo com um trailler de um filme que estou muito ansiosa pra ver :


Robin Hood com Russel Crowe do mesmo diretor de Gladiador - um dos meus filmes preferidos. Vamos todos assitir, enfim, depois volto com algo mais interessante .