quarta-feira, 25 de março de 2009


O mundo na minha cabeça, a fazendo pesar duzentas vezes mais do que o normal. E por quê? Não há respostas, e eu sinto que se eu perder tempo de novo, tentando encontrá-las, elas vão fugir ainda mais. Esse redemoinho aqui dentro não me deixa sossegar, espanta a tranqüilidade pra longe de mim, assim como uma pedra espanta peixes na água. Quanto mais o tempo passa, mas o buraco negro que tenta me engolir desde que me entendo por gente fica maior, mas ele chega perto, mais eu sinto o seu cheiro pútrido de noções ruins sobre as coisas, mas me enjôo. Mas ao mesmo tempo que sinto-me perdendo cada vez mais nesse infinito de dúvidas e certezas, uma luz – um calor quase insuportável ao mesmo tempo que insignificante, brota em mim, fingindo me dar forças, forças que no fundo tenho todas dentro de mim. Só preciso descobri-las, e usá-las sem medo.
É que tudo depende dos dias vividos e das lembranças apagadas.

terça-feira, 24 de março de 2009


Coisas banais, elas me fazem querer morrer. E eu morreria, mas a covardia tem de cumprir com seu papel. Ela tem de mostrar onde é que o oceano se choca com a estrada, e aonde eu irei me afogar. Escolhas só minhas. Que não conseguem se fazer escolher sozinhas. Era essencial. Agora é mortal. Porque essa inconstância?

sexta-feira, 20 de março de 2009


Escolhas que temos de fazer, quando tudo te leva para um caminho, mas teu coração, tua alma – para outro. Aliás, escolhas são traiçoeiras, sempre que nos entregam algo, nos tiram algo também. Muitas vezes não vale à pena, mas somos forçados a escolher, seja entre o que for, não podemos deixar o tempo escolher por nós. Na realidade, podemos até esperar que outros escolham por nós, mas nunca seremos completos. No fundo todos gostamos de termos controle sobre nossas próprias vidas e um dia, depois das escolhas feitas, iríamos nos arrepender de ter deixado tudo na mão de outros. Que certamente vão escolher o que lhes agrada melhor, e ficaremos remoendo a chance que tivemos de acertar tudo isso, mas ao contrário, por pura preguiça ou descaso, ou até mesmo inexperiência, resolvemos passar esse poder inexpugnável à mão de outrem. E por quê? Pra que? Se escolhas são muitas vezes irrevogáveis e únicas, por que não simplesmente as aceitamos e vivemos nossa vida em harmonia com elas? Bem, talvez porque não seja fácil ter de adivinhar o futuro ao escolher algo e ter de deixar outra coisa pra trás. Nosso âmago egoísta, humano, sedento de fartura, não nos acalma. Ele clama por tudo que pode recolher, e nele não estão inclusas a vontade de perder e o conforto de não ter de escolher.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Looking in your eyes


E aquela faca atravessava meu corpo com uma frieza inigualável. Aquela faca cortava minhas entranhas sem piedade. Minha visão ia ficando turva, as lágrimas já não me eram oferecidas, esculpiam em meu rosto a figura da dor e da tragédia. Tudo ao meu redor girava, em instantes seguintes, congelava. Aliás, nunca pensei que pudesse congelar. Nunca pensei que pudesse tentar gritar, expurgando a voz de minha garganta, sem que nenhum som saísse. Eu queria detê-la – aquela faca. Dois gumes, sem saída. De um jeito ou outro me feriria. Uma angústia fria e mal-cheirosa veio ao meu encontro. Era como se toda minha carne pútrida ficasse a mostra. Como se toda a minha metade morta, voltasse à vida. Era o mundo em minha cabeça, era pesado demais. Queria que você pudesse me sentir ali. Sentir o horror girando à minha volta. E você certamente sentiria. Aquela faca, aquela faca estava me trazendo de volta à vida, enquanto me devolvia à morte, também.
Aquela faca eram seus olhos – me pedindo pra morrer, me pedindo pra esquecer.

domingo, 8 de março de 2009


Jogo-me penhasco abaixo, em direção ao mar, esperando que a brisa cortante que passa por meu corpo, limpe-me de meus pecados. Mar-adentro espero encontrar tranqüilidade e paz que nunca pude ter, devido ao meu lado humano. Enquanto caio e sinto meu corpo sofrer a pressão do ar, sinto também que estou me purificando. Sinto-me livre. Voando como um pássaro, sem saber voar. Parece que toda minha angústia, arrependimento e dor já não importam mais. Todas elas somem com o vento que balança meus cabelos, corta minha pele. Passo a achar que realmente me libertei. Porém, depois o medo vem astuto, aterrador, rastejando desde meus dedos dos pés até a ponta da cabeça. Ele também se jogou penhasco abaixo e conseguiu alcançar-me. Invade-me, sem deixar que uma célula ainda viva de meu corpo consiga escapar. Ele toma conta de mim, me faz pensar em coisas que começam, devagar e sorrateiramente, a me amedrontar. Agora que o mar se aproxima a cada segundo, acelerando minha imagem em suas águas, me pego perguntando a ninguém, e se eu não morrer? Se sofrer? Onde vai parar a liberdade que eu sentia há dois minutos? Onde está meu egoísmo? Ele me seria bem útil agora. Não me deixaria pensar nos outros, nem mesmo em mim mesma. Apenas na paz que eu iria encontrar. Consigo sentir o cheiro dos animais marinhos, a brisa marinha. Minha cabeça está a ponto de explodir, mas eu sorrio. Sorrio porque agora sei, vou sentir falta de tudo, de estar viva, de sentir as coisas. Sorrio porque sei que valeu a pena, se estou sorrindo, valeu à pena. Mas chegou o fim, e vou encará-lo com bravura, afinal, foi o fim escolhido por mim. Sorrio e sinto a água inundar-me, grito seu nome, sorrio e ponho fim em minha estada nesse mundo. Deixo para trás uma história, a minha história, sorrindo.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Da estupidez


Ando sem paciência pra nada. Até mesmo um mosquito zumbindo em meu ouvido pode me fazer explodir. Tudo bem, um mosquito irritaria qualquer um em qualquer momento. Porém, um mosquito no estado em que me encontro, poderia fazer-me esfaquear alguém. Segurem, prendam-me, façam qualquer coisa porque estou de mal com o mundo todo. Se uma inocente criança olhar pra mim, posso tentar decapitá-la, por inveja da sua vida fácil e alegre, enquanto a minha está mergulhada em um tumulto que parece não ter mais fim. Sinto falta da minha infância, quando as pessoas não passavam de meros bonecos, e quando os sentimentos que eram criados por elas, os laços, não faziam tanta diferença assim, porque ainda teríamos os carrinhos e as Barbies. Ah! Essas bonecas malditas, eu as adorava até crescer e perceber que nunca seria igual a alguma delas. Agora as odeio e elas contribuem para a minha falta de paciência. Quando digo que estou a ponto de explodir, até um olá feliz dirigido a mim pode despertar de vez a minha fúria. E quando me perguntam o que me leva a pensar e agir assim? Respondo-lhes, a injustiça de minha vida, que é vazia e eu não consigo preenchê-la, ou achar alguém que me ajude a fazer isso. E não há nada que me irrite mais, do que olhar pra trás e só enxergar vazio.

domingo, 1 de março de 2009


E se tudo no mundo resolvesse me engolir, talvez a escassez de palavras bonitas e quanto menos singelas fosse justificável. Não se pode engolir o mundo e isso eu tive de aprender tendo as provas espirradas como um jato em minha cara. Pessoas rolam ao meu encontro e eu desvio delas como se fossem perigosas. Essa idéia embutida em mim de que tudo pode me ferir com tremenda facilidade, já é quase utópica. Já é quase irrevogável meu futuro. Faz frio e chove, chove e gosto da sensação molhada e fresca que a chuva traz. Há tempos adoeci de causas absurdas e procuro alguém que vá me curar, sem medo. Percepção. Percebo seu olhar congelando-me por dentro, enquanto ainda luto – sem forças – para respirar. Porque eu não estava lá? Que irrevogável seja, pois já caí no seu abismo.