sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Do gelo


Talvez sentir seu sangue borbulhar sem volta, espalhando-se pelo chão, enroscando-se em minhas mãos; talvez fosse reconfortante agora. Porque aí então nunca mais ele correria por mim, nem por ninguém. Nunca mais eu teria de forçar o meu próprio sangue a correr por alguém que não fosse eu mesma. Porque o meu futuro, meu destino eu já sei que é ao seu lado, porém se eu te eliminar de uma vez, talvez eu esteja livre de novo. Pois nunca aprendi a viver nessa nossa gaiola de fome, sede e sangue. Só arrancou pedaços essenciais de mim, que doei a você com tamanha curiosidade. E que agora, quando o arrependimento arrebenta pra sempre os vestígios de sanidade em meu cérebro, nos os posso ter de volta. Não sei bem se gostaria de tê-los, mas talvez me salvassem desse poço sem fundo, gélido e esdrúxulo – no qual caí por você; pra descobrir por baixo de seu disfarce epitelial, uma carne pútrida e gasta” pelas rasteiras da vida. Carne essa que não me serviu de nada a não ser para apodrecer a minha.
E agora? E agora que nem mais ela tenho para me consolar? Levou inclusive o meu resto de faísca, que me queimava a pele, porém me impulsionava a lutar. A maré está confusa, não tem peixes, só tem corpos. Corpos esses que não reconheço mais. Nem mesmo o seu.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Da espera.


E todos os nossos crimes pecaminosos ficaram pra trás. O tempo correu, galopou além da nossa capacidade para alcançá-lo. Tudo que fizemos vai ficar pegando poeira nas gavetas de nossas mentes. Sujas. Tudo que pensamos em fazer ficará em nossa consciência. Apitando. Enlouquecendo. Éramos apenas crianças? Não, não éramos. Éramos muito mais apreensivos. Éramos um. Poderia ficar preso no tempo por você. As coisas soariam mais equalizadas. Corretas.
Mas nunca o correto foi o nosso objetivo. Nunca o correto nos satisfez. O que temos a oferecer? Gotas de suor com o sal do mar. Éramos luz iluminando a praia. Éramos o farol dando a direção. Porque desmoronamos? Bombas vieram a nós e não soubemos desviá-las. E depois de nos destruírem, fomos fracos o suficiente para desistir da reconstrução. Ou talvez estivéssemos saturados?
Ou talvez os ventos do destino estivessem soprando pro lado errado; prefiro acreditar que estavam; culpar o destino é um refúgio. Culpa. Não vou renegar o que me foi tirado e dado de volta. Porque perder a vida e o sentido atrás de coisas que não voltam mais, é reconhecível, quase um ato heróico se chegar vivo ao final da busca. Inexistente. Agora, conseguir negar o que é seu por direito, renegar aquilo que está dentro de você, por mais que você o queime como o ácido - renegar você seria suicídio.
Só o tempo pode dizer - só o tempo pode abandonar.