domingo, 8 de março de 2009


Jogo-me penhasco abaixo, em direção ao mar, esperando que a brisa cortante que passa por meu corpo, limpe-me de meus pecados. Mar-adentro espero encontrar tranqüilidade e paz que nunca pude ter, devido ao meu lado humano. Enquanto caio e sinto meu corpo sofrer a pressão do ar, sinto também que estou me purificando. Sinto-me livre. Voando como um pássaro, sem saber voar. Parece que toda minha angústia, arrependimento e dor já não importam mais. Todas elas somem com o vento que balança meus cabelos, corta minha pele. Passo a achar que realmente me libertei. Porém, depois o medo vem astuto, aterrador, rastejando desde meus dedos dos pés até a ponta da cabeça. Ele também se jogou penhasco abaixo e conseguiu alcançar-me. Invade-me, sem deixar que uma célula ainda viva de meu corpo consiga escapar. Ele toma conta de mim, me faz pensar em coisas que começam, devagar e sorrateiramente, a me amedrontar. Agora que o mar se aproxima a cada segundo, acelerando minha imagem em suas águas, me pego perguntando a ninguém, e se eu não morrer? Se sofrer? Onde vai parar a liberdade que eu sentia há dois minutos? Onde está meu egoísmo? Ele me seria bem útil agora. Não me deixaria pensar nos outros, nem mesmo em mim mesma. Apenas na paz que eu iria encontrar. Consigo sentir o cheiro dos animais marinhos, a brisa marinha. Minha cabeça está a ponto de explodir, mas eu sorrio. Sorrio porque agora sei, vou sentir falta de tudo, de estar viva, de sentir as coisas. Sorrio porque sei que valeu a pena, se estou sorrindo, valeu à pena. Mas chegou o fim, e vou encará-lo com bravura, afinal, foi o fim escolhido por mim. Sorrio e sinto a água inundar-me, grito seu nome, sorrio e ponho fim em minha estada nesse mundo. Deixo para trás uma história, a minha história, sorrindo.

3 comentários:

  1. Ah a melancolia! É tão... satisfatória.
    Melancolia assusta, sim, mas que tem, pelo menos no meu caso, se adepta e gosta.
    Sabia que teria 'alguem' no texto: Sorrio e sinto a água inundar-me, GRITO SE NOME,
    Sempre o amor envolvido. ~] Adoro teus texto, não consigo escrever algo do tipo, forte.

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  2. Suicídio é a forma mais pura de egoísmo, ser tão egoísta ao ponto de não dar o luxo a nada e ng de matar você, de você escolher a hora de acabar, de você decidir o que quer fazer com seu fim e de como será seu fim. Texto digníssimo.

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  3. O medo: principal alimento do pequeno sabotador dentro de nós. Nos induzindo, às vezes inconscientemente, a por um fim naquilo que não sabemos lidar, no q não conhecemos e que pode revelar em nós a fragilidade e vulnerabilidade que tentamos esconder.

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