sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Do gelo


Talvez sentir seu sangue borbulhar sem volta, espalhando-se pelo chão, enroscando-se em minhas mãos; talvez fosse reconfortante agora. Porque aí então nunca mais ele correria por mim, nem por ninguém. Nunca mais eu teria de forçar o meu próprio sangue a correr por alguém que não fosse eu mesma. Porque o meu futuro, meu destino eu já sei que é ao seu lado, porém se eu te eliminar de uma vez, talvez eu esteja livre de novo. Pois nunca aprendi a viver nessa nossa gaiola de fome, sede e sangue. Só arrancou pedaços essenciais de mim, que doei a você com tamanha curiosidade. E que agora, quando o arrependimento arrebenta pra sempre os vestígios de sanidade em meu cérebro, nos os posso ter de volta. Não sei bem se gostaria de tê-los, mas talvez me salvassem desse poço sem fundo, gélido e esdrúxulo – no qual caí por você; pra descobrir por baixo de seu disfarce epitelial, uma carne pútrida e gasta” pelas rasteiras da vida. Carne essa que não me serviu de nada a não ser para apodrecer a minha.
E agora? E agora que nem mais ela tenho para me consolar? Levou inclusive o meu resto de faísca, que me queimava a pele, porém me impulsionava a lutar. A maré está confusa, não tem peixes, só tem corpos. Corpos esses que não reconheço mais. Nem mesmo o seu.

3 comentários:

  1. "Talvez sentir seu sangue borbulhar sem volta, espalhando-se pelo chão, enroscando-se em minhas mãos; talvez fosse reconfortante agora. Porque aí então nunca mais ele correria por mim, nem por ninguém. Nunca mais eu teria de forçar o meu próprio sangue a correr por alguém que não fosse eu mesma." a melhor parte *-*
    amo seus textos. voce escreve MUITO mano *-*.

    aah eu tenho muita coisa pensada pra essa minha historia, pensei em juntar tudo e transformar em um livro, mas nao tenho ideia de nome OPSAKOPSAK

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  2. Forte e melancólico. Gosta de melancolia, me faz bem, teu texto me fez bem.

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